sábado

CAPÍTULO 57: NOS BASTIDORES DA CIRURGIA DA MÃE

Foi preciso minha mãe ir para as coxias para eu pelo menos por um breve instante tentar dimensionar o trabalho dela todos os dias.

Depois de uma cirurgia de catarata ela ficou impossibilitada de fazer as coisas e tudo ficou a flor da pele. O cansaço e a falta de bom senso, meus são os ingredientes necessários para que essa situação, torne-se muito pior do que parecia ser.

Quando eu digo que não vivi 90% das coisas que o grupo do CPBT vive, não estava mentindo, devo isso à superproteção recebida de minha mãe. Nem um café eu sabia fazer e na minha idade isso é inadmissível.
Mas em grande parte a culpa também é minha por ter me acomodado. E ter me deixado envolver por essa atmosfera que é tão favorável, mas que agora está tirando o resto de sanidade que tenho.

Não sei por que mudou tanto. Quando eu era pequenina minha relação com meu pai era muito agradável. Ele sempre me levava para passear. Ainda consigo ouvi-lo cantar as músicas para eu dormir, contando as histórias de lobisomem do pai dele ou da vila em que morava. Dos passeios que dávamos. Não sei o ponto onde mudou, mas já cheguei, por vezes, ao ponto de passar dias e dias sem falar com ele, por uma besteira, no qual era preciso a intervenção da minha mãe para que tudo se resolvesse. Isso durou bem mais que minha infância perfeita. Sinto que deixei para trás a leveza e doçura que nem de longe tenho mais.

E agora diante de toda a situação, vejo-me obrigada a falar o mínimo para não explodir e por minha causa ter um ataque. Em 2015 ele operou do coração, duas pontes de safena, fiz o que pude e farei sempre que necessário. Três anos depois, provavelmente, é preciso que ele volte e refaça a cirurgia. Nesse meio tempo quantas brigas tivemos por conta do meu descontrole em tratá-lo, mas dá preocupação para que não fizesse extravagância.

De nada adiantou dizer eu avisei, e mesmo agora, quando ele sabe que não pode fazer continua fazendo, já briguei, já me irritei, já o irritei, contudo nada adiantou e antes que ele morra por minha culpa prefiro deixar de lado, falar somente o necessário para ver se ameniza mais. Entretanto, no fim a culpa ainda será minha, porque eu não sei tratá-lo, porque eu trato todo mundo bem menos ele.

Porque tu não procuras uma psicóloga? Porque tu tens que mudar? Porque eu passo o tempo com eles e não tem briga? Por quê? Por quê? Diante disso resolvi assumi a culpa, parar de fugir e não mais tentar me modificar, mas calar e me afastar. Continuo com a política da boa vizinhança, sei que na hora de correr, sou eu que vou correr, mas até o fim farei minha parte, para que haja um novo começo. Não sei quantas vezes ainda gritarei, pararei de falar, mas sei que mesmo com todos os defeitos, sou eu que estou ali 24h por dia pra tentar modificar isso que chamamos de carma.

Se temos que passar por isso, então vamos passar. Não quero precisar repetir essa prova. Por outro lado, se necessário for, se eu não tiver atingindo a nota máxima, não me interessa seguir, nessa matéria a nota terá que ser a maior possível, se não voltaremos quantas vezes for necessário para refazê-la.

Minha mãe é a melhor pessoa do mundo e faço o que faço, imagina se não fosse? Ao contrário do meu pai nossa relação não era muito próxima, até que um dia ele disse que ela tinha que ser a pessoa mais importante da minha vida, não foi como uma ordem ou como uma obrigação foi como um resgate de memória que parecia ter se apagado, porém naquele momento eu reativei, mas nem isso me fez perder esse jeito pedante e bruta de berrar e fazê-la mal. Sabe a relação entre tapas e beijos, é isso. Eu estou gostando de cuidar dela, às vezes, passamos horas conversando, brigo porque quero que ela diminua o ritmo, mas agora que ela parou, não estou conseguindo seguir.

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