domingo

POEMA SEM RUMO

Depois de três décadas de obesidade
Enfim, a luz no fim do túnel
Já não aguentava mais tanto preconceito
de baleia assassina como eu era vista pelos outros
era o menor dos meus defeitos.
Então depois de tanta rejeição
resolvi o mesmo fazer
e das pessoas me esconder.
Sempre tentei ser sociável, 
mas minha aparência dificultava,
tornava tudo inevitável.
Poucos eram os amigos
Afinal, quantidade são apenas números,
pois os poucos que havia
levarei comigo além da vida.
Até que um dia,
fui levada a conhecer
aquilo que para sempre mudaria meu ser.
Um médico perguntou
se a cirurgia bariátrica eu queria fazer?
Nunca ouvi falar,
mas não me custa nada procurar.
E o Cristo em sua imensa bondade
pessoas no meu caminho colocou
para falar toda verdade.
Depois que decidir
era hora de buscar
e  foi naquele instante
que soube que minha felicidade iria encontrar.
Porque ser gorda não é defeito,
mas emagrecer tem seus proveitos.
E assim aconteceu
no dia 26 de agosto de 2016 a cirurgia ocorreu.
E tudo parecia bem,
mas com o passar do tempo a cabeça desandou
e aquela de outrora sem rumo ficou 
foi preciso ajuda procurar para tudo melhorar
e o conselho mais caro receber
procure algo de novo para fazer
expanda os horizontes e pense no seu bem querer.
Então um belo dia, sem muita serventia
olhando o Facebook eu estava
quando do nada vejo a chamada
“venha fazer teatro na Companhia Teatral Acontece”
E logo aquilo me apetece,
mas a dúvida no ar pairou

pensei:

Aonde isso vai me levar

no que vou aproveitar
se os cursos até hoje a realizar
foram voltados para trabalhar.
Dinheiro que é bom, eu não tenho
mesmo assim vou tentar
e se eu não gostar
o acordo firmado vou quebrar
sem me importa, com o que os outros vão falar.
Fiz mil e uma perguntas
Pois no fundo achei que não fosse gostar
No entanto, precisei somente da primeira aula
para pelo Palco me apaixonar.
Para quem o teatro nunca considerou frequentar
Ver de dentro é saber que um sonho está a realizar
Pois Ele é o responsável pela mudança em meu olhar
E foi com a ajuda dele que ergui a cabeça
e consegui o outro encarar
olhos nos olhos é assim que deve ser
porque generosidade foi a palavra-chave que me fez continuar
e se Deus quiser nunca mais parar
e quanto mais inserida na arte você ficar
mais preparado para vida vai estar.

   Escrita por Maria Cláudia Costa

quinta-feira

CAPÍTULO 60: MEU MELHOR PRESENTE É VC


















CAPÍTULO 59: SINGULAR

A gente se decepciona com alguém
Não porque a pessoa mudou o modo de ser conosco,
Mas porque borrou a pintura que passamos o tempo a desenhar.
A sensação é de que o quadro pintado a óleo derreteu.
Bate uma triste, justamente porque é de quem não esperamos.
E não tem como não se perguntar: o que aconteceu?
Por fim, já não quero mais saber,
Desejo apenas deixar de remoer e aceitar
Que o cristal foi quebrado e círculo rompido
E como prezo muito pelo respeito ao outro
Não tenha dúvidas de que seu pedido será atendido,
Os esquivos percebidos foram compelidos
E como resultado posso sem dúvida afirmar
Que de minha parte, nossas caricaturas
Jamais voltarão a ser encontrar.

sábado

CAPÍTULO 58: O ELO SE PARTIU


A vó se foi
E não se aproveitou
É a impressão que me passou,
Mas o melhor presente nos deixou
A melhor filha
A melhor mãe
Maria, a primogênita,
A escolhida.
Logo ao saber da notícia
Um filme inteiro passou
No entanto, só uma coisa martelou,
O aniversário que por infortúnio
Gorou.
Eram tantas as divergências levantadas para não ir
Que nã hora da morte pelo ar vi sumir.
Num instante deu-se um jeito
E a estrada virou sujeito
De um dia mal feito.
Mesmo assim, obstáculos foram afeitos,
Mas dessa vez, nenhum conceito seria desfeito,
Pois minha vó no seu último leito
Minha mãe prestaria seu respeito.
Então fomos noite adentro
Pela estrada inconformada e culpada
Para levar nosso último adeus
No final dessa jornada
Que findaria no calor da alvorada.
Estavam quase todos,
Muitos não conseguiram ir
E outros que bem perto estavam
No meio do caminho acharam de resistir
Um pouco tarde
Mas quem somos nós para julgar
Atos insanos de quem perdeu tempo em chegar.
O enterro foi na praia
Longe, em meio aos coqueirais
Perto de um lago que reluz Sol e paz.
Junto ao meu avô
Que pouca lembrança tenho,
Pois tinha pouco mais de uma década
Quando o desencarne lhe arrebatou.
90 anos não é pra qualquer uma,
Cheia de dores, mágoas e medo
Viveu e faleceu.
Meu único pesar foi à foto não tirada
Dela com a bisneta
Talvez não fosse para ser,
Mas em todo caso
Ela viria conhecer nessa ou na próxima vida,
Mas foi-se sabendo que a bisneta
Era sua face em carrara esculpida.
Egoísmo de minha parte
Querer uma foto,
Mesmo sabendo que a hora chegou
E seria muito injusto
Minha vó continuar sentindo dor,
Nos pés, nas pernas, na alma,
E até ameaçada de ser enxotada da própria casa
Pelos filhos, esse medo ela passou,
Pois almejavam uma casa que mais que morada
Foi à história consagrada
E que a todo custo deveria ser preservada.
Se antes com matriarca a família já era desajustada,
Agora sem ela
Só Deus e muita cautela.
Tantas coisas deveriam ter sido ditas,
Mais momentos compartilhados,
Contudo, o importante é que mesmo de longe
Ela era lembrada e muito amada,
Ainda hoje sinto tua falta,
Parece que não aconteceu,
Que chegaremos lá e no alto
Já poderemos ver-te a esperar
E na saída chorar pedindo-nos para ficar,
E mais uma vez dizemos: breve voltaremos.
Mas agora, nós que esperamos o teu retorno
Se realmente precisar
Porque se não
No Nosso Lar deveria ficar
Para o espírito repousar.

CAPÍTULO 57: NOS BASTIDORES DA CIRURGIA DA MÃE

Foi preciso minha mãe ir para as coxias para eu pelo menos por um breve instante tentar dimensionar o trabalho dela todos os dias.

Depois de uma cirurgia de catarata ela ficou impossibilitada de fazer as coisas e tudo ficou a flor da pele. O cansaço e a falta de bom senso, meus são os ingredientes necessários para que essa situação, torne-se muito pior do que parecia ser.

Quando eu digo que não vivi 90% das coisas que o grupo do CPBT vive, não estava mentindo, devo isso à superproteção recebida de minha mãe. Nem um café eu sabia fazer e na minha idade isso é inadmissível.
Mas em grande parte a culpa também é minha por ter me acomodado. E ter me deixado envolver por essa atmosfera que é tão favorável, mas que agora está tirando o resto de sanidade que tenho.

Não sei por que mudou tanto. Quando eu era pequenina minha relação com meu pai era muito agradável. Ele sempre me levava para passear. Ainda consigo ouvi-lo cantar as músicas para eu dormir, contando as histórias de lobisomem do pai dele ou da vila em que morava. Dos passeios que dávamos. Não sei o ponto onde mudou, mas já cheguei, por vezes, ao ponto de passar dias e dias sem falar com ele, por uma besteira, no qual era preciso a intervenção da minha mãe para que tudo se resolvesse. Isso durou bem mais que minha infância perfeita. Sinto que deixei para trás a leveza e doçura que nem de longe tenho mais.

E agora diante de toda a situação, vejo-me obrigada a falar o mínimo para não explodir e por minha causa ter um ataque. Em 2015 ele operou do coração, duas pontes de safena, fiz o que pude e farei sempre que necessário. Três anos depois, provavelmente, é preciso que ele volte e refaça a cirurgia. Nesse meio tempo quantas brigas tivemos por conta do meu descontrole em tratá-lo, mas dá preocupação para que não fizesse extravagância.

De nada adiantou dizer eu avisei, e mesmo agora, quando ele sabe que não pode fazer continua fazendo, já briguei, já me irritei, já o irritei, contudo nada adiantou e antes que ele morra por minha culpa prefiro deixar de lado, falar somente o necessário para ver se ameniza mais. Entretanto, no fim a culpa ainda será minha, porque eu não sei tratá-lo, porque eu trato todo mundo bem menos ele.

Porque tu não procuras uma psicóloga? Porque tu tens que mudar? Porque eu passo o tempo com eles e não tem briga? Por quê? Por quê? Diante disso resolvi assumi a culpa, parar de fugir e não mais tentar me modificar, mas calar e me afastar. Continuo com a política da boa vizinhança, sei que na hora de correr, sou eu que vou correr, mas até o fim farei minha parte, para que haja um novo começo. Não sei quantas vezes ainda gritarei, pararei de falar, mas sei que mesmo com todos os defeitos, sou eu que estou ali 24h por dia pra tentar modificar isso que chamamos de carma.

Se temos que passar por isso, então vamos passar. Não quero precisar repetir essa prova. Por outro lado, se necessário for, se eu não tiver atingindo a nota máxima, não me interessa seguir, nessa matéria a nota terá que ser a maior possível, se não voltaremos quantas vezes for necessário para refazê-la.

Minha mãe é a melhor pessoa do mundo e faço o que faço, imagina se não fosse? Ao contrário do meu pai nossa relação não era muito próxima, até que um dia ele disse que ela tinha que ser a pessoa mais importante da minha vida, não foi como uma ordem ou como uma obrigação foi como um resgate de memória que parecia ter se apagado, porém naquele momento eu reativei, mas nem isso me fez perder esse jeito pedante e bruta de berrar e fazê-la mal. Sabe a relação entre tapas e beijos, é isso. Eu estou gostando de cuidar dela, às vezes, passamos horas conversando, brigo porque quero que ela diminua o ritmo, mas agora que ela parou, não estou conseguindo seguir.

CAPÍTULO 56: MARIA VALENTINA

Eu já nasci esperando esse dia.
Uma noite voltando do teatro,
Recebi a intervenção
Minha irmã por mensagem disse
Que você a caminho estava
E mais que depressa perguntei:
Não estás mentindo?
- achas que brincarias com isso?
E nesse exato momento
A felicidade se refugiou em mim
E não me contive
Sabia que a partir dali
A noite se faria dia, 
Seria a melhor fase da minha vida.
A criança pretendida estava chegando,
Não viria do meu ventre,
Mas gerada no meu Coração
Com todo amor que alguém pode dedicar a outro ser
Sem nenhuma pretensão.
Como contar em casa?
Ela contou ao pai
Que sem pensar falou para tirar
Mas na mesma hora
Arrependeu-se e não tornou a tardar
Compreendeu que viria para nos acrescentar
A mãe não entendeu nada
E, pois a falar,
Agora, vai querer fazer tudo,
Inclusive estudar.
Minha buscou logo o teste fazer
Só não sabia pra quê?*
Pois comprovação meu coração achava de ter.
Mas enfim, o teste atestou
Agora era esperar o menino ou a menina chegar
Para nomes, João ou Maria
Pois nome duplo havia de colocar.
Eu sempre sonhei com menino 
Meu pai afirmou: menina
Queria a hora do parto esperar
Mas ela ansiosa, quis logo saber
O médico fazendo suspense
Não tardou em escrever
Na tela do computador
Para quem quisesse ver
Maria
Maria Valentina
A Fernanda outros nomes sugestionou,
Mas eu não arredei o pé
E Maria Valentina ficou
O tempo correu
E o dia chegou
Depois de nove meses de espera
A hora era aquela
E já na maternidade
A médica diagnosticou
Daqui você só sai agora
Carregando o que outrora
Nem se quer pela memória passou
Falando em memoria
Lembro-me de um dia
Ao entrar no quarto toda feliz
Ela estava a chorar
Medo de não aguentar
O que a vida para ela
Estava a reservar
Então disse sem pestanejar
Tenha medo não, que eu cuido
Foi o que precisou para ela despertar
E em super mãe se transformar
E, por conseguinte, muito chata se tornar
O que é bom para a balança nortear
Certa vez em uma consulta
Pediu ao médico para os lábios da neném olhar
Por ter colocado uma chave no bolso
Pensou que com lábio leporino
A criança poderia chegar
Crendices popular
Em todo caso não devemos confiar
E não custa nada investigar
Mas para assim chegar
Suicida haveria de ser
Mas graças a Deus
Nada de mal ei de acontecer
Pensei que ela fosse pontual
Mas é preguiçosa
Pós matura como disse o doutor
Quase não chega
Mas finalmente chegou
A uma e 55 minutos do dia seis de agosto de 2019
Depois de uma cesária de última hora
Por estar com o coração disparado
E a Fernanda sem dilatação
Cheguei à sala a tempo de ver
O médico segurando aquele bebezinho
Todo cagadinho em suas mãos
Em seguida, sendo levada para purificação
Depois colocado ao lado da mãe
Para uma breve e ligeira harmonização
Todo recém-nascido tem cara de joelho
Entretanto, a Maria Valentina é a cara da bisvó
Nasceu na madrugada de terça
Veio para iluminar a vida de todos de uma vez só.
Chegamos em casa na quarta a tarde
E a partir de agora era cuidar
Do nosso pacotinho de felicidade.