sexta-feira

Demônio Familiar

INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ
DEPARTAMENTO DE ARTES

LICENCIATURA EM TEATRO
DISCIPLINA: TEATRO BRASILEIRO
PROFESSOR (A): Paulo Ess
ALUNA: Maria Cláudia Costa
DATA: 04/04/2019
  
         José Martiniano de Alencar mais conhecido como José de Alencar. Nascido em Messejana, Fortaleza, Ceará no ano de 1829. Pertencente ao período romântico. Sua trajetória como escritor foi marcada pela diversidade de romances tais como o romance urbano, romance histórico ou indianista e romance regionalista, além de também ter produzido algumas peças de teatrais como Demônio Família de 1857. Não fugindo a regra, o romance foi compilado em meio à escravidão, a presença da coroa portuguesa que acabará de tornar o Brasil independente, todavia também, já tendo início alguns levantes para tirar o poder das mãos da coroa e instaurar a república.
         O Romantismo é a primeira estética literária a reivindicar uma literatura autenticamente brasileira e inaugura a Era Nacional da Literatura. Tendo como grande projeto a construção de uma identidade nacional, os autores desse período valorizam os elementos nacionais para consolidar o sentimento de brasilidade nascido com a independência política do país em 1822. Entretanto, esse nacionalismo ainda estava muito ligado às características advindas da Europa, pois se analisarmos os muitos personagens concebidos nessa época, notaremos que alguns não faram retrato fiel da nossa nacionalidade.
         Com relação aos aspectos que marcam a literatura desse movimento, podemos destacar como principais características do Romantismo no Brasil: o rompimento com a cultura precedente, a escola literária do Arcadismo com o predomínio da racionalidade, ciência e cultura pagã; a subjetividade e valorização das expressões dos sentimentos e manifestações do eu; a arte voltada para o povo, surgimento de um público consumidor da cultura (com o surgimento de tecnologias que agilizavam a produção, surgiram os folhetins); a liberdade e originalidade, com a criação da forma livre de regras; a idealização da mulher, muitas vezes culminando no amor platônico; o indianismo, no qual o índio é apresentado como herói; a evasão, ou um escape (escapismo) do mundo real; o patriotismo, com expressões de nacionalismo chegando à sua forma exacerbada, que é o ufanismo; a religiosidade, na qual o escritor ou poeta se sustenta como resposta para a insegurança e incerteza, além do contraponto ao cientificismo presente no Neoclassicismo (ou Arcadismo); a exaltação da natureza. E com base nos aspectos acima, podemos caracterizar a obra Demônio Familiar.
         É possível observar dentre outras características o estrangeiro através de algumas expressões advindas principalmente do francês, muito provavelmente porque nessa época o Brasil estava começando a dar os primeiros passos em direção à liberdade, no entanto, tudo ainda produzido era refletido na Europa, principalmente em Paris. Muitos vocábulos eram pronunciados no próprio idioma, sem necessitar de tradução, como atualmente acontece com o inglês.
         Lendo a frase de “Azevedo - E ainda sou, meu amigo; dou-te de conselho que não te cases. O celibato é o verdadeiro estado!... Lembra-te que Cristo foi garçon!” (p. 19) confesso que não entendi o que ele quis significar. Li uma segunda vez, pois ainda pensei que fosse maçom. Que característica será que ele estava querendo utilizar?
         Outra idiossincrasia desse contexto é o casamento por interesse, visando ascender socialmente. A história nos narra a família que perdeu o ser poder patriarcal e o filho mais velho teve que assumir a tutoria da casa e, por conseguinte, fazer o que é a sociedade espera. O romantismo tem como característica a vida de aparências. Eduardo mesmo interessado em uma moça com quem pretende se casar é levado a trocar cartas com uma senhora rica, não por sua escolha, mas porque a uma pessoa alcoviteira,  por meio de manobras estratégicas, faz uma reviravolta na vida de todos que estão a sua volta. Inclusive tenta separar a irmã de Eduardo do seu amado. Tudo isso para que eles enriqueçam e concretizem os objetivos do demônio familiar, que vem a ser um negro. Tudo que ele ambicionava era ter carro próprio para ser cocheiro. E partir dessa colocação, devemos levantar alguns pontos: o autor traz um negro como um ser demonizado? Que atrapalha a vida dos outros, que mente, que engana? Nessa situação o que José de Alencar queria transmitir ao público leitor? Será que ele concordava com a figura criada do negro ou tentou desmitificar? O negro já era visto pela igreja católica como um ser que não tinha alma, que podia apanhar, que tinha que trabalhar de sol a sol e não precisava de liberdade, porque não era considerado gente. Será que isso não reforça o idealismo da época? Por outro lado, quando por fim tudo é descoberto o negro é posto em liberdade, para viver sua própria vida e as dores e mazelas da mesma. Aí me vem outro questionamento.  Punido com a liberdade? Mas a liberdade não deveria ser uma coisa boa? A meu ver isso reforça a ideia de que o negro não pode ter vida própria, que tem que viver no cárcere. A abolição só com pelo menos três décadas a frente, que não resolveu nada, eles continuam sendo descriminados sem chances e ser inserido na sociedade como homens libertos.

Referências Bibliográficas
Alencar, José. Demônio Familiar. Disponível em: <http://www.livrosgratis.com.br/download_livro_44830/o_demonio_familiar> acessado em 02/04/2019.

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