sábado

Capítulo VI: Contenção e Controle

INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ
DEPARTAMENTO DE ARTES
LICENCIATURA EM TEATRO
DISCIPLINA: ATOR INTÉRPRETE
PROFESSOR (A): Paulo Ess
ALUNA: Maria Cláudia Costa
DATA: 27/03/2019


PARTE I:

         Compor seja lá o que for não é uma tarefa fácil mesmo para aqueles que tem facilidade, porque para chegar ao ideia é necessário uma série de seguimentos, tais como: pensar em uma temática, buscar fundamentação teórica e prática, rabiscar pensamentos, traçar ideias, organizar o raciocínio, colocar no papel, escolher os atores, definir a função de cada um, ensaiar e finalmente aparar as pontas, quer dizer, fazer cortes e alterações necessárias para que a dramaturgia seja no mínimo agradável aos olhos do público. “O mesmo acontece com o nosso tipo de trabalho. Os gestos excessivos equivalem ao refugo, ao sujo, às manchas”. (p. 114) Dessa forma, podemos entender que esses gestos podem ser físicos, bem como cenas desnecessárias.
         Contudo, fazendo uma leitura a partir de um fragmento retirado do texto, podemos perceber que os gestos significam mais fielmente a parte física do ator: “Portanto, antes de empreender a criação exterior da sua personagem, a interpretação física, a transferência da vida interior de um papel para a sua imagem concreta, ele tem de se livrar de todos os gestos supérfluos”. (p. 114)
         O gesto pode trazer não só benefícios para o ator, mas também desconforto, principalmente quando a pessoa não se encontra bem psicologicamente, pois nessas condições qualquer fator externo ou interno pode afetar seu estado de ânimo e causar conflitos seriamos que dependendo da personagem de atuação possa até confundir a ficção com a realidade.

Alguém que esteja passando por um drama emocional pungente é incapaz de referir-se a ele coerentemente, pois em determinado momento as lágrimas o sufocam, a voz falha, a tensão dos sentimentos confunde os pensamentos, o aspecto miserável desorienta aqueles que o vêem e os impede de compreender a causa verdadeira do seu sofrimento. Mas o tempo, o grande restaurador, modera a agitação interior do homem, permite-lhe portar-se com calma em relação aos acontecimentos passados.
Pode-se referir a eles coerentemente, devagar, inteligivelmente e enquanto relata sua história permanece relativamente calmo, ao passo que os que a ouvem choram. (p. 114 e 115)

         Para alguns atores, principalmente os menos experientes, gesticular muito, não conseguir parar, caminhar em excesso como o conhecido “pés quente”, pode beneficiar e enriquecer a cena, porém, às vezes, o efeito é contrário.

Afirmo que um gesto, como tal, um movimento independente que não exprima nenhuma ação pertinente ao papel do ator, é desnecessário, a não ser em algumas raras ocasiões, como, por exemplo, em certos papéis característicos. Simplesmente usando um gesto não se pode transmitir o espírito interior de um papel nem a principal linha contínua de ação que corre por ele. Para conseguir isto, temos de usar movimentos que induzam à ação física. Eles, por sua vez, transmitem o espírito interior do papel que estamos interpretando. (p. 116)


         E reforçando a ideia de gestos desnecessários, o autor nos diz que:

Além dos gestos, os atores, também, fazem muitos movimentos involuntários, numa tentativa de ajudarem a si mesmos a superar passagens difíceis dos seus papéis. Esses movimentos podem evocar efeitos emocionais exteriores ou a aparência física exterior de emoções que não existem nos atores superficiais. Assumem a forma de cãibras convulsivas, hipertensão muscular desnecessária e prejudicial, na suposição de que ajudam a espremer emoções teatrais. Entretanto elas não só fazem borrões no papel como também interferem na contenção, no controle e no estado verdadeiro, natural, do ator enquanto ele está em cena. (p. 116)

         E com base nessa temática, não podemos nos esquecer de mencionar costumes de alguns atores em cena, trazer de si movimentos e gestos pessoais que visivelmente vemos que não pertencem ao personagem ou se pertencem, pertence também ao mundo pessoal do ator. Vejamos o que Stanislavski relata acerca desse assunto:

O ator tampouco deve esquecer que o gesto típico ajuda-o a aproximar-se da personagem que ele está encarnando, ao passo que a intrusão dos movimentos pessoais o separa dela, e o impele às emoções puramente pessoais. Isto não pode contribuir nem para o propósito da peça nem para O do papel, pois o que é preciso são emoções análogas e não emoções pessoais. Naturalmente, os gestos característicos não podem ser muito repetidos, senão perdem o efeito e se tornam cacetes. (p. 118)


         O pior é mesmo é ver que tem atores que mesmo percebendo que estão trilhando caminhos incômodos para o bom desempenho do papel continuam, porque tem acima de tudo o ego que não os deixam enxergarem que anular-se um pouco para exaltar a sua criação é melhor do que apenas quer aparecer e não realizar um bom trabalho, levando ao público uma personagem muitas vezes caricata sem nada de novo a oferecer.

PARTE II:

         Acredita-se que um ator quando realiza um trabalho espera receber críticas benéficas que o ajudem a melhorar a sua caminhada artística. Entretanto, nem sempre são flores, pois seria muito bom realizar um trabalho e agradar a todos, mas sabemos que não é assim, principalmente nesse mundo particular que é o teatro, pois esse exigir dedicação e empenho, não dando espaço para pessoas que não desejam evoluir como atores. Afinal, estamos cansados de ver que alguns entram nesse mundo apenas pensando na fama e no dinheiro, sendo que podem chegar a esse status, porém são para poucos, em vista disso, estudemos e trabalhemos para não recebamos criticas como está definida a seguir:

Bem, realmente - disse comigo mesmo - ele tem boa voz. Tem os elementos de um bom ator, uma ótima presença, representa no estilo italiano habitual, mas não vejo nele nada de extraordinário. O ator que interpreta Otelo é tão bom quanto ele. Também tem bom material, uma voz maravilhosa, dicção, porte. Senti-me bastante frio ante os arroubos dos técnicos que estavam prontos para desfalecer depois da primeira fala de Salvini. (p. 122 e 123)

         Por fim, temos que fazer a diferença se pretendemos ser reconhecidos por nossa arte. Não adiante apenas querer, mas ir além e agregar características novas, deixando que a própria essência do teatro nos guie e nos permita relacionar o que é importante manter ou retirar na hora de compilar uma personagem.
        

Referências Bibliográficas
Stanislavski, Constantin. A construção da personagem; tradução Pontes de Paula Lima. - 10' ed. - Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

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