segunda-feira

Espetáculo Frei Tito: Vida, Paixão e Morte

Sinopse de acordo com o Jornal O Povo

         O Grupo Formosura de Teatro apresenta o espetáculo “Frei Tito: Vida, Paixão e Morte”, que retrata história do frade cearense Tito de Alencar, preso político durante a ditadura militar. A peça pretende resgatar a memória do ativista, além de relembrar vozes que resistiram à opressão social durante o golpe de 64.
         O espetáculo narra a trajetória do personagem, que teve papel importante no combate à ditadura militar brasileira, entre 1960 e 1970. Frei Tito foi preso em 1968, torturado e exilado para a cidade de Lion, na França, local onde morreu. 
         Não é a primeira vez que “Frei Tito: Vida, paixão e Morte” é apresentado ao público. Escrita na década de 1980, a peça foi proibida, explica o teatrólogo Ricardo Guilherme, roteirista da obra. “Ainda havia censura prévia da Polícia Federal, e [a peça] só foi liberada no final dos anos 1980. Ela dialoga com o tema da ditadura, da censura, do regresso da política de direita, que está se reeditando na política do Brasil... Ela tem essa referência com o passado e com essa mentalidade”, ressalta Ricardo Guilherme.
         O teatrólogo também explica que o roteiro está em constante mudança e em atualização, tendo sido montada pela primeira vez em 1991 e apresentada por diversas cidades do Brasil desde 2011.

Sinopse de acordo com a Cena Coletiva

         
Noites de silêncio: Frei Tito e as marcas da repressão, Vida, Paixão e Morte. Vida de uma memória que se revela. Paixão de uma vocação pela fé. Morte de um grande ser humano marcado pela dor de uma voraz ditadura militar. Assim, o Grupo Formosura de Teatro (Fortaleza-CE), aos quase 30 anos de atividades, encena “Frei Tito: Vida, Paixão e Morte” e desvela a biografia de um dos maiores símbolos da luta pela democracia no Brasil, passadas quatro décadas após sua morte.
         Mas poderia um ‘homem de Deus’ se aliar a luta armada? Descortinam-se os arquivos. Aos poucos a vida de Frei Tito começa a ser contada, narrada. Contos, dados, fatos, memórias presentes num arquivo em aço situado ao fundo do palco. As gavetas abrem e reabrem num jogo que alimenta toda a encenação e alterna-se com intervenções narrativas de Ricardo Guilherme, que também assina o texto e a consultoria de encenação.
         Ele não somente narra: canta e encanta com voz e presença que demonstram imenso entusiasmo em meio às folhas carimbadas de vermelho com o nome ‘censurado’ e uma luz amena perto de si. Mais adiante, Ricardo interpreta o delegado Sérgio Paranhos Fleury, do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Fleury prendeu e torturou Tito no XXX Congresso da Une, em Ibiuna-SP, em 1969 e pairou como fantasma até a sua morte nos idos de 1974. Frei Tito ouviu a voz do militar até o último dia de sua vida.
         Ao mesmo tempo, os atores William Mendonça, Maria Vitória e Leonardo Costa desenham as ações que captam o público e compõem a trama. Mais que apresentarem as passagens da vida de Frei Tito, os atores jogam com a sonoridade primorosa de Rami Freitas. Em cena, ele conta com um violão e outros instrumentos percussivos que pontuam as transições entre o narrativo e o dramático, por assim dizer.
         Do mesmo modo, os atores arquitetam o espaço impulsionados pelo feixe semiótico que o arquivo, ao fundo do palco, provoca: suas gavetas revelam a mobilidade de signos que o espetáculo se propõe a tecer. E com recursos mínimos. O móvel, que outrora era arquivo, torna-se mala e altar de igreja, por exemplo. O uso de microfones é uma escolha acertada, mas deve-se atentar às microfonias e a vocalização.
Esse arranjo de linguagem e as escolhas que o Grupo faz  nos mostra que é possível tratar da violência sofrida por Tito – sua representação e manejo – sem necessariamente ser violento. Além disso, a radicalização da encenação detecta a propulsão que move os sentidos da criação da obra. Trata-se de encontrar as causas que engendram, dramática e biograficamente, a personalidade de Tito de Alencar Lima, sua síntese. Nesse contexto, a direção de Graça Freitas aliada à consultoria de Ricardo Guilherme detonam uma dinâmica que preza pela radicalidade, pela atomicidade. E é também nítido este diálogo na perspectiva da direção dos atores. É um modo, uma metodologia. E também uma poética, sem dúvida.
         Vale mensurar as passagens entre Frei Tito (William Mendonça) e a irmã Nildes de Alencar (Maria Vitória). Elas revelam a fraternidade entre ambos, bem como o papel materno que muitas vezes Nildes desempenhava. É importante ressaltar que o texto recebeu menção honrosa no Concurso Internacional de Obras Teatrais do Terceiro Mundo, da Unesco, em 1987. No espetáculo ele é uma reedição da peça escrita no fim dos anos 80 e originalmente apresentada em 1992. Em “Frei Tito: Vida, Paixão e Morte”, a dramaturgia tem uma versão que passou por um novo tratamento.
A montagem faz parte das ações do “Projeto Sala Escura da Tortura”, promovido pelo Instituto Frei Tito e pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. É uma voz de denúncia e que se apresenta como defesa da necessidade de uma “justiça de transição”, termo que indica o enfrentamento dos efeitos de uma violência em massa na época da ditadura. Num momento em que a Comissão da Verdade, instituída pela Lei 12.528 de 2011, apura violações aos Direitos Humanos ocorridas naquele período, assistir a este espetáculo é de uma relevância ímpar.
         Frei Tito tem um lugar fundamental na nossa história, na cidade de Fortaleza, no Ceará, no Brasil e no mundo. Os momentos de alegria e a vida intensa estão resguardos sob o que o teatro pode nos oferecer de mais extraordinário em “Frei Tito: Vida, Paixão e Morte”. A trajetória marcada pela dor e repressão também nos emociona com a encenação do grupo. Uma aula de história. De política. Uma aula de vida. Um teatro genuinamente cearense, feito por cearenses e que retrata a história de um grande cearense. Que o Grupo Formosura comemore essas três décadas levando este espetáculo mundo afora!

Sobre Frei Tito



         Frei Tito nasceu em 14 de setembro de 1945, em Fortaleza, Ceará. Em 1964, participou das primeiras reuniões e das manifestações estudantis contra a ditadura militar. No início de 1966, ingressou no noviciado dos dominicanos, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Em 1968, foi preso durante o Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna (São Paulo), sendo apontado como o responsável por alugar o sítio para a atividade.
         Detido novamente, em novembro de 1969, com Frei Betto e outros religiosos em uma operação realizada pela Polícia de São Paulo, os dominicanos foram acusados de apoiarem Carlos Marighella, da Ação Libertadora Nacional (ALN). Frei Tito foi torturado ininterruptamente durante três dias pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, chefe do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).
         Em seguida, o religioso foi enviado ao presídio Tiradentes, no qual permaneceu até fevereiro de 1970, quando foi levado para a sede da Operação Bandeirantes (OBAN). Nesse local, o frei teria sido novamente submetido a crueldades físicas e psicológicas, nesta época pelos denunciados Homero César Machado e Maurício Lopes Lima, em conjunto com outros agentes que até o momento não foram identificados.
         Em dezembro de 1970, Frei Tito foi incluído entre os prisioneiros políticos trocados pelo embaixador suíço Giovani Enrico Bücker, sequestrado pelo comando da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Em 1971, foi para Roma, Itália, e, em seguida, para Paris, França, onde foi acolhido no convento Saint Jacques. O religioso acabou se suicidando no exílio francês, em setembro de 1974.
        
Ficha Técnica

Direção: Graça Freitas
Autor: Ricardo Guilherme
Atores: Leonardo Costa, Maria Vitória, Willian Mendonça e Ricardo Guilherme
Direção musical e execução: Rami Freitas
Iluminação: Graça Freitas
Produção: Erica Sales
Realização: Grupo Formosura de Teatro

Considerações Pessoais




         E foi sob a óptica da história do Frei que o espetáculo Frei Tito encenado pelo Grupo Formosura de Teatro juntamente com Ricardo Guilherme mostrou a história de um religioso que contrariou não só as leis da igreja, mas de pessoas influentes para defender seus ideais.
         Os atores emprestaram suas bocas e corpos para reproduzir discursos da época da ditadura contra a censura, que deu vida as organização políticas dentro de lugares até então impermeáveis como no caso das igrejas.
         A encenação abordou temas como Ditadura Militar, Guerra Fria, Igreja Católica, Estados unidos e as provações que o povo passou.
         Quando escutamos a frase: Fascistas civis a favor dos militares deflagram em nome de um golpe de Estado. Logo nos vem à cabeça que ela é mais atual que nunca. E a história se repete.
         Tito insistiu em sua luta, mesmo sua irmã pedindo que parasse. Ela tinha medo da reação dos contrários. Quanto ao presidente, colocar é fácil, quero ver tirar, frase atual. Tito foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) e apoiava o MDB, à esquerda, Cuba e Fidel.
         Fazia uso das seguintes frases:
Salvar seres humanos, vivos e necessitados.
Como se ter fé sem ser revolucionário?
O cristianismo não pode se calar diante das injustiças. Contrariando as leis católicas que preza pelo idealismo próprio.
Sou de humanas porque tenho humanidade.
Não quero mais do que tenho, mas desejo que todos tenham ao menos o que eu tenho.
Bem aventurados os que têm sede de justiça.
         O espetáculo mostrou acontecimentos como a UNE caçada e Frei Tito preso. O Ai5 como torturador e repressor. O Poder judiciário como traidor do comunismo que, por conseguinte, passou a derramar sangue de inocentes através da figura do Delegado Fleury que pronunciou a seguinte frase a Tito: A tortura fará com que a posse da sua alma esteja impregnada de mim. Teu deus sou eu. E ainda tem pessoas que segue defendendo essa perspectiva.
         Poeticamente, se é que é possível, o grupo fez o público vivenciar cenas de choque, disfunções fisiológicas e a falta de amor ao próximo. Chegando a revelara comparação entre a hóstia sagrada e fios elétricos ligados à boca de uma pessoa.
         Em meio aos males que acontecia no Brasil nos anos ditatoriais, o país continuou levando sua vidinha de todos os dias. As copas mundiais continuaram sendo jogadas, o hino cantado sem a população se sequer saber o significado de suas palavras. A Igreja que deveria defender os necessitados estava mais preocupada com a própria pele.
         E por fim, Frei Tito foi condenado a quatro anos de prisão. Depois foi resgatado pela VPN (Vanguarda Popular Revolucionária) um Grupo de luta armada brasileira de extrema esquerda que lutou contra o regime militar de 1964 no Brasil, visando à instauração de um governo de cunho socialista no país. Passou a viver na Europa, mas todo horror passado nunca saiu de sua mente e em meio a poesias declamadas por Ricardo Guilherme vimos que nosso personagem principal não resistiu às próprias lembranças e partiu.

Referências Bibliográficas

Disponível em: https://www.opovo.com.br/vidaearte/showseespetaculos/2019/08/29/espetaculo--frei-tito--vida--paixao-e-morte---de-ricardo-guilherme--e-encenado-no-teatro-da-praia.html Acesso em: 17 set. 2019.
Disponível em: https://cenacoletiva.wordpress.com/2014/08/26/noites-de-silencio-frei-tito-e-as-marcas-da-repressao/ Acesso em: 17 set. 2019.
Disponível em: http://caritas.org.br/a-trajetoria-de-vida-de-frei-tito/32579 Acesso em: 17 set. 2019.

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