segunda-feira

Sobre Augusto Boal - Teatro do Oprimido

INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ
DEPARTAMENTO DE ARTES
LICENCIATURA EM TEATRO
DISCIPLINA: TEORIA E HISTÓRIA DO TEATRO I
PROFESSOR(A): Juliana Veras
ALUNA: Maria Cláudia Costa


1. Pesquisar quem foi Augusto Boal, sobre teatro do oprimido e suas vertentes.


         Augusto Boal ao criar o Teatro do Oprimido tinha em mente que toda pessoa escondia em sua essência um ator, portanto suas apresentações sempre abriram espaço para que a plateia participasse do espetáculo. Este era encenado uma primeira vez e a partir da segunda vez, qualquer pessoa do público poderia interromper e falar como queria que fosse desenrolada a cena ou mesmo poderia assumir papel de ator.
         Em seu livro Arco-Íris do Desejo, ele dá uma ideia bem marcante de como gostava de fazer teatro. De início narra à história de um homem que gastava o que tinha e o que não tinha e ainda pedia dinheiro à mulher sob o pretexto de construir uma casa para ambos e como forma de compensação entregava-lhe os recibos das prestações. Por conseguinte, ela sempre pedia para ver a casa, mas ele sempre inventava uma justificativa e não a levava. Por esse motivo, ela começou a desconfiar. Guardava os recibos sem ler, pois era analfabeta, contudo, esperta. Um dia, pediu uma vizinha para ler e descobriu que se tratava de cartas que o seu marido recebia de uma amante. Por conta do trabalho, ele passava dias sem vir em casa, porém estava prestes a chegar. Então a proposta de Boal foi: no retorno do marido à casa o que a mulher deveria fazer? Agora é a hora da intervenção do público. Por fim, concluímos que quem faz o desfecho é a plateia. É mais do que uma quebra de quarta parede é fazer com que as pessoas que nos assistem sejam mais que espectadores, sejam atores.
         E através desse tipo de teatro podemos notar que somos capazes de ser mais e melhor do que somos. Podemos sim, transformar a vida em arte e a arte em vida, porque temos a obrigação de levar aos palcos um retrato do cotidiano, a denúncia do nosso dia a dia, mantendo assim, o público alerta para as mazelas que está acontecendo em nossa sociedade.
         Dramaturgo, diretor, ator, escritor, inventor, morreu aos 78 anos de insuficiência respiratória, também foi diagnosticado com leucemia daí a necessidade de ser internado. Em contrapartida, no auge de sua saúde graduou-se em química e depois partiu para os Estados Unidos onde cursou Artes. Um reles mortal perguntaria o que tem a ver dois cursos? Quem saberá responder? A única coisa que posso dizer é que devemos seguir nossos instintos. Na volta ao Brasil sua primeira peça como diretor do Arena foi Ratos e Homens de John Steinbeck.
         Seu maior destaque com relação ao trabalho foi nos anos de 1960/1970 quando esteve à frente do Teatro Arena em São Paulo, pois ficou conhecido internacionalmente por sua arte dramática e social. Com Boal, o Arena tornou-se uma das companhias de teatro mais importantes do Brasil. fechou suas portas no final da década de 1960.
         Nas palavras de Boal: O Teatro do Oprimido é o teatro no sentido mais arcaico do termo.  Todos os seres humanos são atores - por que atuam - e espectadores por que observam. Somos todos espectadores.
         Dentre todas as suas publicações, que foram escritas não só em Português, mas traduzidas para idiomas como: alemão, dinamarquês, espanhol, finlandês, francês, inglês, norueguês e sueco. Está aquele que mais me chama atenção: O Arco-Íris do Desejo.
         Comecemos com uma análise simplória do título do livro: “arco-íris” é algo colorido, que encanta as pessoas e convencionalmente nas histórias que passamos a vida escutando, no final dele tem potes com moedas de ouro.  Ouro sempre encanta. Segundo o dicionário online: “desejo” substantivo masculino que significa aspiração, querer, vontade, expectativa de possuir ou alcançar algo. Quem não quer alcançar o pote de tesouro no final do arco-íris? Em contrapartida, fala de teatro que em termos técnicos ou não técnicos trata-se de sonhos que podem se tornar realidade ou que deixou de ser sonho para ser apenas realidade.
         “Terapia” acompanhamento que uma pessoa faz com um profissional da área para se livrar das dores sofridas pela alma. E que tal juntar teatro e Terapia? É uma mistura que dá certo, pois o teatro ajuda a lidar com público, com os próprios medos e com o preconceito das pessoas, oportunizando vida nova. Fazer certos sentimentos afetar diretamente o público é sem dúvida a função do teatro.
         Logo no prefácio, podemos ver que o livro foi dedicado ao Lula, fundador do Partido dos Trabalhadores e Paulo Freire, pai da educação brasileira, dentre outras duas pessoas.
         Paulo Freire também fala de oprimido, versa a respeito da pedagogia, mas o que é oprimido? Do verbo oprimir é aquele que sofre a opressão de si mesmo, dos familiares ou da sociedade. Opressor é aquele que oprime, que faz vítimas, que promove a tirania e humilhações. É aquele que acha que pode tudo ou por que é de uma classe social superior ou por achar que sua raça é superior. E é esse pensamento que esses autores vêm tentando modificar dentro da nossa coletividade. Sabemos que a humanidade caminha a passos lentos. Ora temos retrocessos ora avanços, talvez agora estejamos na parte do retrocesso. Ainda não entendemos que somos oprimidos e estamos tentando sair dessa condição.
         O Arco-Íris do Desejo trata o teatro como a primeira invenção humana que vem nos explicar como tudo começou, porque se começarmos a contar da era das cavernas, podemos dizer que os homens já representavam através da contação de histórias, das pinturas nas paredes e do corpo gestual. Faz perguntas como: o que é o ser humano? O que é o ator? Menciona a vida em hospitais psiquiátricos e como as pessoas podem se beneficiar estando nesses lugares e ao mesmo tempo à margem da sociedade. E ainda trabalha gestos, práticas, imagens e o teatro como mentira e como verdade.

O teatro é a primeira invenção humana e é aquela que possibilita e promove todas as outras invenções e todas as outras descobertas. O teatro nasce quando o ser humano descobre que pode observar-se a si mesmo: ver-se em ação. Descobre que pode ver-se no ato de ver - ver-se em situação. Ao ver-se, percebe o que é, descobre o que não é, e imagina o que pode vir a ser. Percebe onde está, descobre onde não está e imagina onde pode ir. Cria-se uma tríade: EU observador, EU em situação, e o Não-EU, isto é, o OUTRO. (Boal, p. 27, 1996 )

          “O ser humano torna-se humano quando inventa o teatro”. Afinal, é sensível, emotivo, racional, sexuado e semovente, consegue fazer mil e uma coisas ao mesmo tempo. Traz ainda um capítulo que fala sobre os preliminares para a utilização das técnicas do arco-íris do desejo e seus respectivos modos.

As técnicas apresentadas neste livro podem todas ser utilizadas de maneiras variadas e diferentes. O modo constitui uma técnica auxiliar e pode ser utilizada de forma complementar a outra técnica, para aprofundar uma busca que está sendo realizada e facilitar a descoberta e a compreensão de uma cena, bem como das relações que se estabelecem entre as personagens. Uma mesma técnica pode ser aplicada em modos distintos e variados, sendo que cada um deles conservará sua utilidade e suas propriedades peculiares. (Boal, p. 70, 1996 )

         E por fim, ele traz algumas reflexões que todos nós devemos fazer para termos certeza de que estamos dirigindo bem nosso teatro e se estamos atingindo ao público certo e, por conseguinte, também tornar aquele público que talvez pareça incerto em um público presente.
         Devemos sempre nos perguntar, a quem se destina o meu teatro? Será que o que eu estou fazendo é realmente teatro? Esteja sempre preparado para ouvir palavras negativas, principalmente quando sua arte for inovadora. É preciso entender que o ator não reproduz a realidade, representa-a. E serve para dominar e demonstrar as dores coletivas, porque atuar é uma arte coletiva. Escrever, pintar, compor até pode sim, ser algo solitário, mas ir ao palco é necessário ajuda. Afinal de contas, o mais importante é o olho no olho, é a entrega. Todo ator só consegue interpretar quando a imagem vem de dentro de si. De outra forma é impossível atuar.
         E não tem como falar de Augusto Boal e não comentar acerca da Árvore do Teatro do Oprimido que emana vida e se cerca de uma composição toda especial na junção a vida que corre de suas folhas, passando pelo caule e chegando as raízes até se firmar como ser vivente. Dentre as várias ramificações desse teatro temos: o teatro jornal, o legislativo, as ações sociais concretas, o teatro invisível, o arco-íris do desejo, o teatro fórum, o teatro imagem e os jogos a serem aplicados dentro desses ensinamentos. Ainda temos a inserção do som, da palavra e da imagem que perpassa pela Filosofia, História e Política na sociedade. Dentro da estética do Oprimido nada é mais importante do que a ética e a solidariedade.


Referências Bibliográficas

Boal, Augusto. Arco-íris do desejo. Método Boal de Teatro e Terapia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.

Somos Todos Artistas. Disponível em: 

Boal, Augusto. Estética do Oprimido. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.

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