Com base nas principais características do teatro
épico, podemos observar que o palco é quem narra a ação, transformando o
espectador em observador, isso o leva a pensar e formular uma opinião própria
em relação a cena. Dessa forma, podemos inferir que esse tipo de teatro
proporciona conhecimento.
Partindo dessa ideia, podemos dizer que o homem é a
peça chave para o processo, isto é, o homem que passa a ser o objeto de
investigação que se transforma e modifica o meio em que está inserido. O teatro
épico ainda trabalha com argumentos, tomada de consciência, afirmando que a
cena existe por si mesma.
Então, partindo desses princípios, podemos fazer um
compêndio entre as características definidas acima, o texto “Cenas de rua” e o
filme “Cronicamente inviável”.
O texto é de cunho narrativo e descritivo trazendo
características como: coros, projeções, luta de classe e diferentes tensões.
Traçando um esquema base entre o teatro épico e o texto, é possível encontrar
uma linguagem habitual e natural dentro de um contexto cotidiano que é um
acidente de trânsito.
Um certo acidente ocorrido em local indeterminado e
momento não especificado é reproduzido por um narrador que pode ou não ter
presenciado o fato, para um expectador que formará, a partir da história
ouvida, seu juízo crítico de valor.
É importante lembrar que a pessoa que narra a história
não precisa ser ator, precisa apenas conhecer o objeto narrado, saber descrever
o lugar do ocorrido, objetos e corpos envolvidos. Lembrando que a reprodução
não precisa ter ou repassar o mesmo sentimento do momento do ocorrido, daí a
necessidade de uma vivência de natureza emocional, porque a descrição deve
obedecer a um compromisso social, permitindo e dando a liberdade ao narrador de
não precisar imitar integralmente a atitude de suas personagens.
Fazendo um paralelo entre o texto e o filme, observamos
que ambos apresentam situações do cotidiano. Enquanto o texto mostra uma
situação corriqueira, que acontece diariamente em todas as partes, o filme traz
ao menos seis. E ainda traçando um paralelo com o teatro de Brecht podemos
dizer que o homem é o objeto da cena, pois a situação vista ao passar na rua ou
ouvida da boca de alguém, remete-nos a algo já vivenciado por nós ou terceiros.
O filme narra a história de personagens diversos com
suas vidas comuns. Demonstra as vivências do cotidiano, de pessoas que vieram
da periferia ou das altas rodas da sociedade. Temos pessoas ricas que
reconhecem a importância de outros pessoas que reagem ao sofrimento sentido
durante à vida inteira. A revolta de crescer brincando com a filha da família
rica e mais tarde, torna-se empregada da mesma. Em conta partida, a mulher rica
se compadece do ladrão que tentou assaltar seu filho e foi impedido por
populares. Todavia, esses só viram o roubo, porque enxergar os subtextos é
insignificante.
São seis personagens que compartilham algumas
histórias e outros que nem ao menos se conhecem, mas que estão dentro da mesma
atmosfera de incompreensão e desespero. Contudo, não posso deixar de mencionar
o narrador, que se indaga o porquê daquelas situações esdrúxulas, mas que segue
a correnteza, por não saber ou não ter forças para sobressair, pois entender
que as coisas devem ser modificadas pode ser o primeiro passo, mas não saber ou
não querer fazer, é caminhar em areia movediça.
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