domingo

CAPÍTULO 52: RE-TALHO

Re-Talho faz parte da minha vida, é um pedaço enorme de mim. Espetáculo que marcou minha estreia no palco principal do Teatro José de Alencar.

Quase não me inscrevi para o CPBT por conta da artrose que tenho nos dois joelhos, mas minha amada Edla Maia disse: vá, todos temos problemas. Então fui. Nas últimas me escrevi. Pensei, aproveitarei muitíssimo a primeira semana, se sair já foi um aprendizado. Contudo, passei para o segundo módulo e depois para terceiro e enfim, cheguei à montagem. As coisas foram se intensificando. Antes eram dois dias por semana, passaram para três, quatro e já nos últimos meses estávamos quase morando no teatro, era de segunda a sexta de noite. No sábado, chegávamos às 14 horas e domingo às 10 horas sem hora para sair. Saudade dos nossos almoços de domingo, dos cochilos à tarde. Até as desavenças, as brigas, as discórdias eram em nome de um filho que estava para nascer e nasceu no dia 26 de agosto de 2018. Foram três dias. Eram para seis apresentações, mas lotou tanto que logo no primeiro dia que seria apenas uma, foram duas. No segundo dia foram duas e no terceiro, que era para ser duas foram quatro. Faria mais se preciso fosse. Apesar de que eu acho que o rendimento não é o mesmo.

Descanso para quê? Uma semana depois, estávamos em Guaramiranga. Posteriormente voltamos ao Teatro José de Alencar. Em seguida, fomos para Russas e depois ao CCBJ. Ainda, apresentamos uma desmontagem para as mães que nos cederam suas histórias e para mais quem quisesse ir. Nunca tinha participado de nada igual, muito gratificante poder conversar e compreender que a vida vai além do nosso umbigo, poder ajudar mesmo que seja só um pouquinho já nos torna melhores.


Por fim, teremos mais uma apresentação em janeiro também no Teatro José de Alencar. Pretendemos ir aos Cucas dentre outros lugares, contudo e por mais generosidade que o teatro tente nos passar nem sempre as coisas andam muita festivas, pois existem pessoas que querem assumir um posto que não deve existir, afinal, a linha tem que ser horizontal e não vertical, então provavelmente a professora e diretora de Re-Talho - espetáculo de conclusão do Curso do Princípios Básicos de Teatro do Teatro José de Alencar  turma da noite 2017/2018 fique até a apresentação de Janeiro. No meu caso especificamente, vou até onde Neidinha Castelo Branco for, não queria que fosse assim, queria seguir até o fim, esgotar o tema, mas para mim é muito desgastante ter  muitos diretores ao invés de atores, por outro lado, também temos seguir. Foi bom enquanto durou. Será bom enquanto durar. Podemos criar outras coisas depois, mas não sei no que vai dar. Pretendo continuar como monitora na próxima turma que vai abrir. Ainda não sei que caminho devo seguir. Gostei de tudo que vivi, mesmo sabendo que poderia ter aproveitado muito mais. Re-Talho me ensinou muita coisa, apresentou-me muitas pessoas e me ajudou a ser quem eu sou hoje.


Gratidão Eterna

DISCIPLINA ATOR NARRADOR - PROTOCOLO Nº 6

Todas as quartas, temos um encontro marcado
Para jogos, teorias e narração
Onde também são debatidos 
Técnicas de encenação

A aula é intensa
Mas cheia de emoção
O corpo precisa estar sempre firme
e enraizado no chão

Cansaço e desconcentração
São sentimentos que não podem existir
O teatro nos enche de vida
Então a cada encontro devemos nos sobressair

Caminhando pelo espaço
Longe, perto, tensão
Escolhe a vítima
E o sequestro traz a aflição


AO LONGO DO DIA

Ao amanhecer,
Ela decide que ainda não é hora de aparecer.
Em seu lugar,
Deixa o choro acontecer.

Ao meio dia,
Vemos como ela passa a caminhar
Repetindo tudo aquilo
Que o ouvido consegue captar

Sem tardar, a tarde acaba de chegar
E com ela a pronúncia do b-a-ba
Juntando uma sílaba na outra
Palavras passam a elaborar

Escureceu.
Agora, ela virou rotina para a comunicação
Contudo, é preciso fazer bom uso dela
Se não a voz pode entrar em estado de retenção.

Escrita por Maria Cláudia Costa

sábado

Espetáculo Notas de uma Terra Devastada

O que é um título? Para muitos um título não quer dizer nada. No entanto, para outros é fundamental para escolha de ver ou não ver, eis a questão. Agora, posso precisar bem isso. Meu colega Paulo colocou no grupo:- Tenho cortesias para um espetáculo no palco principal do Teatro José de Alencar.Nem pensei. Quero. Fui. Na minha cabeça o título tinha algo a ver com morte. Então o espetáculo começou.

O público sentado no chão. Problema, casal de idoso, mas rapidamente arrumaram cadeiras.

Primeiro ponto: as perspectivas levadas à cena tem que ser vista por todos os ângulos para sanar problemas como esse.

Dois atores em cena. Uma discussão que me pareceu direita x esquerda. Pessoas estão morrendo, guerras, conflitos, redes sociais, discurso de ódio.

- Pessoas como vocês falam assim. Você é chata vai perder todos os amigos.

Não parecia teatro.

A vida é estática? Porque não criticar?

Depois de toda a discussão, entra em cena um gravador e inicia-se uma briga pela vida.

Personagens ao chão. E em meio a uma luta corporal passam entre o público. Nessa hora, dei graças a Deus por não terem vindo para o meu lado. As pessoas se afastaram. Teriam passado por cima de mim. Eu estava exausta.

Previsão do fim do mundo. A terra. Exploração. Outros planetas. Destruir. Até não restar mais nada. Colonizar outras civilizações? Pretensão.

Nova vida. Recomeço. Retorno ao primitivismo.

No fim. Que fim? Já era o fim? Não percebi. Faltou o blackout. Enfim, veio as palmas.

O que foi tudo isso. Onde estar à morte do título. Levantei-me e fui embora. Entendi nada. Certas coisas não deveriam ser apresentadas. Mas para ser justo seria melhor saber qual o título da peça. Alguma coisa com morte anunciada. Acho que esse é outro espetáculo. Porque o nome desse, é: “Notas de uma Terra Devastada”.

- Ahhhhh. Pois é. A tá. Agora faz sentido o que eu assisti.  Sem mais...

domingo

CAPÍTULO 51: IFCE

Um dia olhando para o Facebook apareceu à página da Cia de Teatral Acontece, daí pensei: quero fazer. Então entrei em contato e fui atendida muito receptivamente. Consegui todas as informações que precisava. Por conseguinte, surgiu uma questão muito importante. Pagar R$ 1200 em curso de teatro, qual a serventia prática? Então a pergunta fundamental foi: mas se eu desistir, terei que continuar pagando?

- Paga só enquanto tiver frequentando as aulas.

Coloquei minha vergonha no bolso e no dia 6/5/2017 as 9h estava lá para minha primeira aula.

Como descrever?
- Inimaginável.

Quando acabou, dois pensamentos: o que me levou até ali? Desse mundo encantado nunca mais queria sair.

A cada dia que passava nesse mundo mágico, o amor só aumentava.

Em junho vi inscrições para o CPBT. Primeiro pensamento, fazer o quê lá com esse problema nos joelhos? Mas conversando com a Edla Maia, professora de consciência corporal na época, disse-me: Vá, porque todos têm limitações.

Muitas dúvidas. Porém, uns dias antes de encerrar as inscrições, sai nas carreiras. Cheguei perto do meio dia. Agora, já estava escrita. Eram fins de agosto ou setembro não lembro. Agora era só esperar.


Entrei para passar uma semana, isto é, o primeiro módulo e dia 24/8/2018 estreei Re-Talho no palco principal do Teatro José de Alencar. Recorde de público.

E em conversas com meu amigo, Felipe Ferreira, fiquei sabendo que tinha entrado como transferido para Licenciatura em teatro no IFCE. Isso era meados de dezembro de 2017. Depois disso, resolvi buscar mais informações e tentar entrar como graduada.

Mas será que realmente é isso?
Se eu pensar demais, não faço.

Em abril sairia o edital. Mudou o acesso do primeiro semestre. Será que mudará a entrada dos graduados também?
Enfim, escrita. Agora era preparar a cena, o currículo artístico e a sinopse. Bateu a dúvida.

Sem contar a ninguém me escrevi para fazer o teste prático e pedi ajuda ao Almeida Junior da Cia Teatral Acontece que mais uma vez, foi perfeito.

No dia, tremia-me tanto, e em conversa com os avaliadores contei minha história, a preferida, que vai desde a Obesidade passando pelo temor a sociedade e chegando a essa escolha. Esperando o resultado.

Primeiro lugar com a nota 8,6. Agora era matricular e só depois disso, respirar.

Dei um suspiro de alívio e o medo retornou. Mas vamos para frente.

O bom é chegar a um lugar conhecendo pessoas. Entretanto, todos foram muito receptivos. Exceto, três situações que passei.

Primeiro, eu comecei a vender minhas coisas no CPBT e ao ir para o IFCE, passei a vender lá também. Tudo ia muito bem, até a moça da cantina me ameaçar. Estava eu vendendo minhas empadas e ela chegou e disse que eu não poderia. Perguntei o porquê se ali, muitas outras pessoas vendiam. Ela disse que doces, salgados não, porque os meus eram baratos por conta que eu não pagava impostos como ela na cantina e se eu continuasse falaria com o diretor. Na hora fiquei assustada, mas pensei bem e esperarei ela voltar a falar. Daí vou chamar para irmos juntas.

Segundo, na entrada precisamos passar a carteirinha para entrar, mas ainda não tenho. Então, fica um guarda passando para as pessoas que não tem. Um dia, ele perguntou se eu era aluna. Não sei o motivo, mas na minha cabeça, ele pensou que eu não fosse aluna por causa da bolsa que trago as coisas para vender e porque sou velha. Senti-me humilhada.

E por último, meu amigo perguntou se eu não iria votar em uma eleição que estava havendo. Não sabia do que se tratava, mas como ele pediu, fui. A moça disse que só alunos poderiam votar. Então, mostrei meu número de matrícula. Todavia, o certo era ela perguntar se eu era aluna. Parece bobagem, mas outra vez, senti-me ofendida.

Tudo isso, serviu-me para lembrar que o preconceito, ainda, continua reinando na nossa sociedade. Uma mulher de 35 anos não pode dar início a um curso superior? Posso sim e pretendo fazer a diferença.

No mais, não tenho certeza das escolhas que fiz, mas amo cada uma delas.
#GratidãoEterna
#PqSouDessas

CAPÍTULO 50: ESQUETE PUGNA FÊMEA

A pessoa que não pode ver nada relacionado a teatro. Sou eu mesma. Que se mete em tudo que ver. Sou eu mesma. Foi então que vi no grupo do CPBT que estavam precisando de pessoas para fazer uma montagem no IFCE, mesmo sem saber do que se tratava, habilitei-me.

Aceitei os horários e fui. Era um esquete para a disciplina de Técnicas de Encenação da aluna Mirlla. A ideia era desmistificar o corpo humano através de sons orgânicos, da repetição de ações, da imitação de bichos, especificamente de galinha e vaca, do desapegar dos objetos, isso tudo para demonstrar a maneira como a mulher é tratada na sociedade, isto é, não como pessoa, mas como objeto, a família que serve o marido.

O espetáculo em si estava representado por mulheres, um cenário limitado e figurino preto. Fizemos duas apresentações, uma para uma primeira avaliação da professora e outra já valendo nota.

O espetáculo começava com uma imagem não estática, repetíamos o mesmo gesto várias vezes aumentando a velocidade. Depois, virávamos boneca e tentávamos melhorar aquilo que achamos feio na nossa aparência. No meu caso eram os braços os braços, pois estão flácidos devido ao emagrecimento. Enrolei-os com fita gomada para que essa flacidez desaparecesse, mas aquilo ia irritando a personagem até que viramos bichos.  Passamos a imitar animais, cada uma um diferente. Eu imitei a cobra, porém tinha outros.


Em seguida, demos início a uma malhação frenética até que corpo e mente não resistiram e caímos. Continuando, entrava uma divindade para nos dar forças e, assim, levantarmos, já não sendo mais aquela de outrora, mas essa que entende e sabe o que é melhor para se viver. tendo todo um ritual de limpeza.

A segunda e definitiva apresentação já com as correções da professora, foi cortada toda a primeira parte, pois ela achou que não era necessário revalidar o que toda a sociedade já pensa sobre a mulher. Dessa forma, começamos a partir do ritual que termina em dança, uma dança de limpeza do corpo, da alma e da mente, aceitando-nos como somos, cuidando das outras na certeza de que nada de mal poderá nos acontecer.


Estar ali naquele lugar, fazendo aquilo que eu gosto, fez-me decidir fazer o teste e entrar como graduada, esse é o meu desejo. Então já que passei, agora é seguir em frente, estudar e me encontrar, que é a parte mais difícil. Não brincar como na UFC, levar a sério, ler muito para fazer sempre o melhor, não para ser melhor que os outros, para conhecer pessoas excelentes.

P.S.: É tempo de revolução, de inquietar, atravessar, incomodar. Fazer teatro não é só ver o belo, tem que mexer na ferida. Enquanto não der nojo, náusea, tudo continuará sendo apagado e esquecido.

Cenário pronto e figurino posto para mais uma apresentação.
Hoje, Pugna Fêmea no ensaio aberto para a disciplina Técnicas de Encenação do Curso de Licenciatura em Teatro do IFCE.

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