Valsa
nº 6 relata, em dois atos, a história de Sônia,
uma jovem de 15 anos que se envolveu com um homem casado e acabou sendo morta
por seu punhal de prata. Ela estava pronta para ir a um baile, trajava um lindo
vestido branco com lantejoulas prateadas e tocava valsa número 6 de Chopin.
A peça estreou no dia 5 de agosto
de 1951 e recebeu muitas críticas significativas. Contudo, ela foi comparada a
outra narrativa de Nelson, Vestido de
Noiva. Foi essa peça que despontou a carreira do escritor. Ela aborda a
história de Alaíde que foi atropelada e enquanto está em coma, passa a relembra
fatos ocorridos em sua vida. Com isso, o autor transmite à plateia a ideia de três
planos: o da alucinação, o da realidade e o da memória. O mesmo ele faz em Valsa nº 6. Sônia, já morta, mesmo sem
saber, tentar buscar na memória fatos e imagens de pessoas que sabe conhecer,
mas não consegue fixar suas fisionomias.
Um ponto bem interessante é a
dupla personalidade de Sônia, adquirida provavelmente pelo choque de ter sido
morta. A personagem age simultaneamente entre alguém que buscar caracterizar
Paulo e saber quem é Sônia. Para ela, Sônia é alguém que concorre com ela pelo
amor de Paulo.
De acordo com Nelson, o monólogo
foi escrito para contrapor o excesso de personagem na cena. Para ele, um
personagem já é suficiente. Especialmente quando a protagonista traz dentro de
si um mundo inteiro. Para o autor, a juventude é a melhor parte da vida, é
aquela que intercala a meninice e a adolescência. Ele mesmo se auto afirma ter
sido um menino grande.
Nelson Rodrigues |
Valsa
nº 6 foi responsável por alavancar mais uma
vez a carreira do escritor Nelson Rodrigues, pois colocar uma morta em cena não
é fácil e dá vida a falecida é mais complicado ainda. Para que isso fosse
possível, a interação com a plateia foi um desfecho perfeito, pois todas as
perguntas feitas foram respondidas pelo público. Aqui, a luz, o cenário, o
tempo e o espaço são características secundárias, porque o que dará vida a
personagem é o modo em que as palavras são trabalhadas, ora sendo dramática,
ora doce, ora gentil, ora com excesso de devaneios.
A ideia de pecado fica bem
marcante no monólogo por dois momentos: primeiro a não ida à missa. Segundo Sônia, o padre disse que não ir a
missa é pecado. E no relacionamento com homem casado. Ela não deixa isso claro,
mas em sua fala podemos notar que é um ato terrível: “Eu, não, Deus me livre!
Homem casado, comigo, está morto. enterrado!” (p. 24)
Outro ponto constante são as várias
vezes que ela corre ao piano para tocar a mesma melodia. Por mais que ela tente
tocar outra música, do piano só sai o mesmo som, como se fora uma maldição.
Por fim, o recordar de suas
lembranças, onde ela ver o resto de suas memórias boiando no rio que corre
rente aos seus pés, ali em cena. Ao mesmo tempo em que fica sabendo da morte de
uma jovem de 15 anos que trajava um vestido branco de lantejoulas prateadas
tocando valsa número 6.
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