Eu deixei a vida passar por mim e
passei a vida me escondendo de tudo, mas principalmente do preconceito que via
nos olhos das pessoas por conta da minha obesidade. Hoje, tenho dúvidas, pois
já não tenho certeza se o preconceito era delas para comigo ou fui eu que o
inventei como armadura de autodefesa. Estar no meio de pessoas, para mim,
sempre foi muito complicado e falar em público, sempre foi uma dor imensurável,
até adentrar a Faculdade de Letras, daí me obriguei a me expor. Todavia, ainda
não era o suficiente e juntamente com a mudança radical de vida, perdi-me de mim
mesma. Já não era a de antes e não sabia quem eu era atualmente. E eis que do
Nada, aparece-me o teatro como uma fuga da realidade, de uma realidade que
nunca havia enfrentado ou se quer tinha imaginado. Então resolvi buscar nele as
respostas que me faltavam e ainda faltam.
Na terça, dia 18, quando entrei
no Teatro José de Alencar, não como espectadora, mas como aluna e vi tantas pessoas
esperando o início da aula, novamente, tive certeza de que essa é a vida que
desejo para mim. E ao adentrar a sala e estar no meio de tantas pessoas, oriundas
dos mais diversos lugares, com suas mais diferentes histórias, fez-me crer que
o teatro é a maior riqueza de um homem, pois nele podemos comparar histórias,
olhar no olho, sentir o calor humano, observar o outro, tanto como extensão de si
quanto por sua individualidade. O teatro foi onde eu aprendi a descontruir a
sociedade, não permitir que a mesma me julgue pelo que eu penso, faço ou sinto.
Ao escutar as pessoas dizerem: “eu
vim para aprender a falar em alto e bom tom que sou viado”. Mostrar-me uma liberdade que só o teatro nos proporciona. Outra frase interessante que escutei
foi: “quem realiza qualquer outro ofício deseja fazer teatro, mas quem faz
teatro, não deseja fazer outra coisa”. Assim, eu entendi que certas coisas são
importantes, porém, o mais importante é ser feliz e eu descobri que ser feliz é
esplêndido e é tão fácil, que quero isso para mim todos os dias, e para isso eu
preciso do teatro. Amo as artes como um todo, o teatro me fez buscar outros
ramos para completá-lo, mas se não puder respirar o teatro, definitivamente,
não existe meio de respirar.
No primeiro dia, houve a
confraternização de ideias, pensamentos, de vida... onde cada um expôs o amor
que senti pelo teatro e por outras artes, a comunhão de pensamentos me fez
perceber que não há vida fora do teatro, falo de vida real, sem preconceito,
sem diferenciação. Podem até dizer que o teatro é canto de prostituta, viado e
maconheiro, não importa o que são, o importante é todos se aceitarem como são e
não ter medo de encarar o outro, de se aceitar e aceitar o outro, porque a vida
não é fácil, mas também não precisa ser difícil, pois temos que buscar nela
todas as oportunidades que nos afirme como pessoa, como ser individual e
coletivo que somos.
O segundo dia foi de práticas.
Aprendi e me conscientizei que o meu corpo será sempre meu instrumento de
trabalho, por isso é importante conhecê-lo. A movimentação, o caminhar
lentamente pelo espaço, ajuda-nos a libertar o corpo da correria do dia a dia,
está aí à beleza do teatro.
Observar o espaço, o outro, olhar
o próximo, imaginar reconstruções sem que elas precisem ser palpáveis é
grandioso. Sonhar é a palavra de ordem, mas não um sonho sem objetivo, mas o
sonho que nos guie, dando vida ao corpo, a mente e ao coração.
Respirar, saber levantar,
aumentar ou diminuir a velocidade através dos comandos, faz-nos além de
conhecer nossos limites, quebrar barreiras para outros que achamos não sermos
capazes. Todavia, algo novo que gostei muito, foi à divisão em blocos, tentar
passar pelo outro, sem machucar, usando a força e sendo maleável ao mesmo
tempo, é algo, que para muitos, é impossível de realizar.
E por fim, findar a aula com uma
palavra que resume todos os sentimentos que aflorou em nosso ser, não poderia
ser diferente: GRATIDÃO, porque
desde o momento que descobri o verdadeiro significado desse vocábulo, nunca
mais deixei de sentir.
Eu sinto que o teatro foi uma escolha,
porém não minha, ele quem me escolheu, que me acolheu quando eu mais precisei.
Eu aceitei o chamado e hoje, ele faz parte da minha vida. Existe teatro sem
Cláudia, mas Cláudia sem teatro, jamais...
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