domingo

CAPÍTULO 29: UM SONHO CHAMADO CPBT - TJA

Eu deixei a vida passar por mim e passei a vida me escondendo de tudo, mas principalmente do preconceito que via nos olhos das pessoas por conta da minha obesidade. Hoje, tenho dúvidas, pois já não tenho certeza se o preconceito era delas para comigo ou fui eu que o inventei como armadura de autodefesa. Estar no meio de pessoas, para mim, sempre foi muito complicado e falar em público, sempre foi uma dor imensurável, até adentrar a Faculdade de Letras, daí me obriguei a me expor. Todavia, ainda não era o suficiente e juntamente com a mudança radical de vida, perdi-me de mim mesma. Já não era a de antes e não sabia quem eu era atualmente. E eis que do Nada, aparece-me o teatro como uma fuga da realidade, de uma realidade que nunca havia enfrentado ou se quer tinha imaginado. Então resolvi buscar nele as respostas que me faltavam e ainda faltam.


Na terça, dia 18, quando entrei no Teatro José de Alencar, não como espectadora, mas como aluna e vi tantas pessoas esperando o início da aula, novamente, tive certeza de que essa é a vida que desejo para mim. E ao adentrar a sala e estar no meio de tantas pessoas, oriundas dos mais diversos lugares, com suas mais diferentes histórias, fez-me crer que o teatro é a maior riqueza de um homem, pois nele podemos comparar histórias, olhar no olho, sentir o calor humano, observar o outro, tanto como extensão de si quanto por sua individualidade. O teatro foi onde eu aprendi a descontruir a sociedade, não permitir que a mesma me julgue pelo que eu penso, faço ou sinto.

Ao escutar as pessoas dizerem: “eu vim para aprender a falar em alto e bom tom que sou viado”. Mostrar-me uma liberdade que só o teatro nos proporciona. Outra frase interessante que escutei foi: “quem realiza qualquer outro ofício deseja fazer teatro, mas quem faz teatro, não deseja fazer outra coisa”. Assim, eu entendi que certas coisas são importantes, porém, o mais importante é ser feliz e eu descobri que ser feliz é esplêndido e é tão fácil, que quero isso para mim todos os dias, e para isso eu preciso do teatro. Amo as artes como um todo, o teatro me fez buscar outros ramos para completá-lo, mas se não puder respirar o teatro, definitivamente, não existe meio de respirar.

No primeiro dia, houve a confraternização de ideias, pensamentos, de vida... onde cada um expôs o amor que senti pelo teatro e por outras artes, a comunhão de pensamentos me fez perceber que não há vida fora do teatro, falo de vida real, sem preconceito, sem diferenciação. Podem até dizer que o teatro é canto de prostituta, viado e maconheiro, não importa o que são, o importante é todos se aceitarem como são e não ter medo de encarar o outro, de se aceitar e aceitar o outro, porque a vida não é fácil, mas também não precisa ser difícil, pois temos que buscar nela todas as oportunidades que nos afirme como pessoa, como ser individual e coletivo que somos.

O segundo dia foi de práticas. Aprendi e me conscientizei que o meu corpo será sempre meu instrumento de trabalho, por isso é importante conhecê-lo. A movimentação, o caminhar lentamente pelo espaço, ajuda-nos a libertar o corpo da correria do dia a dia, está aí à beleza do teatro.

Observar o espaço, o outro, olhar o próximo, imaginar reconstruções sem que elas precisem ser palpáveis é grandioso. Sonhar é a palavra de ordem, mas não um sonho sem objetivo, mas o sonho que nos guie, dando vida ao corpo, a mente e ao coração.

Respirar, saber levantar, aumentar ou diminuir a velocidade através dos comandos, faz-nos além de conhecer nossos limites, quebrar barreiras para outros que achamos não sermos capazes. Todavia, algo novo que gostei muito, foi à divisão em blocos, tentar passar pelo outro, sem machucar, usando a força e sendo maleável ao mesmo tempo, é algo, que para muitos, é impossível de realizar.

E por fim, findar a aula com uma palavra que resume todos os sentimentos que aflorou em nosso ser, não poderia ser diferente: GRATIDÃO, porque desde o momento que descobri o verdadeiro significado desse vocábulo, nunca mais deixei de sentir.


Eu sinto que o teatro foi uma escolha, porém não minha, ele quem me escolheu, que me acolheu quando eu mais precisei. Eu aceitei o chamado e hoje, ele faz parte da minha vida. Existe teatro sem Cláudia, mas Cláudia sem teatro, jamais...

Nenhum comentário:

Postar um comentário