domingo

Espetáculo Relato Final

Dia de encerramento. O ambiente estava propício à arte. O público? Esse estava bem empolgado e interessado, haja vista, os comentários na recepção, antes de adentrarmos a sala de espetáculos, propriamente, dita.

Em fim, as luzes se apagaram para a peça começar.


A morte adentra o palco advindo por trás da plateia. Entrada triunfante.

E quem morre? Não sabe que morreu. Seu primeiro desejo? Voltar para casa.

Relato Final narra à história de um homem, Pedro, que morreu em um acidente de moto. 

Ele correu, correu e de repente, estava em um lugar, que não sabia onde era e nem como ir embora.
Ao saber de seu destino fatídico, ele se revolta e mostra-se muito furioso. A morte tenta acalmá-lo. Depois de muito argumentar, ela necessita convencer aquele que fez a passagem, de que a morte não é o fim, mas o começo de uma nova caminhada. Todavia, Pedro a ver como sinônimo de dor, perda e recordações.

A morte, então, rebate os pensamentos do morto dizendo que o mais difícil é o primeiro ano, pois nele temos o primeiro aniversário, o primeiro Natal, as primeiras férias, mas a vida deve ter uma continuidade e que tudo passa.

Depois de tais argumentos, Pedro não resisti aquelas belas palavras e aceita tomar chá com sua ditadora, para entender quais os motivos que ela tem para cessar a vida de outrem.

- Qual o motivo de sua existência?


Então a morte passa a narrar histórias. Dentre elas, de um ator que vivia da arte e de uma palhaça que usava do riso para esconder suas dores.

E em meio o desenrolar da narrativa, Pedro diz: Almeida Junior, esse fica olhando. E novamente, Pedro diz: Almeida Junior. Então, esse responde, pode falar que eu estou ouvindo. Todos que ali estavam olharam-se e com certeza fizeram a mesma indagação: Eles erraram?

A interação com o público

Almeida Junior e Neto saíram do personagem, mas continuaram em cena. Foi um lance primoroso, pois pegou o público despercebido e como as pessoas costumam ser críticas, tenho certeza que a primeira ideia foi de erro. Foi o que passou pela cabeça.
Foi à forma que eles encontraram de agradecer ao público e trazê-los para dentro daquele mundo de fantasias, que para muitos parece despercebido.

Três coisas que amei:
Primeiro, foi o testamento exposto por ambos. Sempre pensei em testamento como fonte de bens materiais. Contudo, o mais importante que posso deixar é o melhor dos meus sentimentos, do meu ser, das experiências que vivi e aprendi ao longo da minha jornada.

Segundo, o compromisso pessoal, tão bem descrito pelo Almeida Junior, da arte que ensina, então peguemos no pé dele.
E por último, o amor incondicional a tudo que está a nossa volta: Deus, pais, irmãos, amigos, parentes, vizinhos, estranhos e porque não aos inimigos?  Amar só faz bem a nós e a quem recebe.

A morte é a única certeza que temos, não sabemos como a encontraremos, se de repente, se aos poucos e se chamaremos por ela. O fato é que ninguém está livre, mais cedo ou mais tarde ela virá.
No ano em que o Suicídio é algo tão relevante para a classe dos psicólogos é preciso observar aqueles que chamam pela morte tão apressadamente.
- Por que você fez isso?
- Eu ajudei a todos. Ninguém ajudou a mim.
Daí a morte conclui: posso ser uma solução ou um problema.

Por fim, os personagens ressurgem e sem mais delongas, eles se vão.


Percepções:

Em cena, ficaram nítidas as expressividades do corpo sem a necessidade da verbalização;
Os ritmos e comandos ensinados sendo encenados;
O pensamento falante;
O toque no outro;
A respiração.

Quando a vida é plena e o sentimento é nobre, a única emoção que podemos expressar é de gratidão. Para muitos, há uma dificuldade de encarar a morte de frente, até o momento em que percebemos que ela não nós acorrenta e nem nos tira a naturalidade da vida, ela não é o fim, mas o recomeço, a oportunidade que temos de evoluir e consertar erros que ficaram na vida passada. Tempo não nos falta, o que nos falta são perspicácia de perceber o que é realmente importante, o que verdadeiramente precisamos para nos sentir vivos. Amar, perdoar, sorrir, sentir, amar, expressar, buscar, consertar, amar, viver, ser caridoso, oferecer um ombro amigo, reunir quem amamos, amar...

E se mesmo assim, depois do fim, sentirmos que não fizemos tudo que poderíamos ter feito, a angustia tomara conta do nosso ser. Todavia, sempre faltará algo, uma palavra, um momento, um gesto. O livro será incompleto, como diz O Rappa: “As palavras de um livro sem final – Pescador de Ilusões”.

Então devemos tentar não deixar assuntos inacabados para arrependimentos posteriores. Dizer eu te amo nem sempre é fácil. Contudo, não são as palavras em si que vão demonstrar a verdade do sentimento, mas sim as atitudes que tomamos.  E é nesse conflito de incompatibilidade da alma que tudo acontece: a perda, a falta de mais carinho, de sermos mais atenciosos, de cantar, dançar, contar histórias...


Nada é por acaso, tudo acontece porque tem que acontecer, são seguimentos naturais da vida. No final das contas somos cacos de tudo aquilo que quebrou dentro de nós. E mesmo que eu viva mil vidas, nenhuma delas paga toda sorte de presentes que ganhei e continuo ganhando. Como última expressão de agradecimento: #GratidãoEterna.





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