terça-feira

CAPÍTULO 12: REINVENTANDO-ME

Os meus, os que me rodeiam, minha família, meus amigos, minha casa, minha vida, descuidei-me. E daí desenvolvi um pensamento que passou a me afligir: sempre os tive ao meu lado, mas deixei de me importar, para da importância a algo que não merecia.

Eu saia, estava próxima, mas só de corpo presente, porque o celular e a internet me parecia mais vantajosa. E se eu tivesse perdido alguém? Se eu não tivesse a possibilidade de vê-los novamente, como iria me sentir? Nunca mais, nada, nem ninguém será mais importante pra mim do que aqueles que se mostraram solidários, que me apoiaram e ficaram ao meu lado quando mais precisei. Se antes, eles não estavam, a culpa foi minha, isto é, da minha doença, que me fez afastá-los.

Dezembro de 2016 foi o momento em que percebi que precisava de ajuda, de muita ajuda. Acordei atônita e já no sabia mais quem eu era. O que eu queria, gostava ou desejava. Agora me comparei a um recém-nascido, pronta para desbravar o mundo. A diferença estava no passado, minha mente já não era uma folha em branco. Contudo, os dias seguintes, esses sim, são folhas em branco, decidi escrever uma história diferente.

E na memória estavam gravadas coisas que deletei pra sempre. O problema é que não somos computadores, não dá pra apagar de uma hora pra outra. Todavia, também não desejo apagar tudo, então comecei uma seleção e, por conseguinte, um duelo de Titãs na minha cabeça. O que permaneceria e o que seria deletado nessa guerra?

A primeira atitude que tomei foi retomar o compromisso que assinei, fazer o tratamento multidisciplinar, voltei ao psicólogo, não mais a da bariátrica, a doutora Zelly, mas agora a doutora Michele, porque até então pensei que a primeira fosse apenas para acompanhamento sobre a cirurgia e eu precisava de ajuda como um todo. Não me arrependo da troca, as duas são maravilhosas e devo eternamente a elas minha vida, mudanças físicas e emocionais.

Todavia, precisava ocupar meu tempo, sair daquela caixa que insistia em me prender. Então, dei início, também, com a terapeuta ocupacional, doutora Sabrina, indico com propriedade, igualmente as outras. Eu nunca entrei no consultório dela pra sair sem um objetivo a ser alcançado. Ela me incentivou a fazer um diário. Até a adolescência eu costumava escrever, mas eram coisas tão insignificantes, tenho meus diários até hoje.

Atualmente, minhas escritas são úteis, não só a mim, mas a outrem.  Quantas mensagens eu recebo, parabenizando minhas mudanças ou apenas para conversar, tirar duvidas. Eu estou sempre pronta pra fazer o que estiver ao meu alcance e se eu não souber a resposta, eu pergunto a quem souber.

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